Por: Pr. Roberto Lugon
“Desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso deixará o homem a seu pai e mãe, uni-ser-á à sua mulher, e serão os dois uma só carne. Portanto ninguém separe o que Deus uniu” ( Mc 10. 6-9 ).
Diferentes, mas feitos para se complementarem, o homem e a mulher assumem um compromisso mútuo quando se unem pelo casamento. O relacionamento marido e mulher, ao longo da história, passou por muitas transformações. Se hoje a mulher luta por seus direitos, é por que sempre foi considerada na religião e na sociedade um ser “inferior”. No entanto, diante de Deus, não existe distinção entre as pessoas, todas têm a mesma dignidade.
O mesmo precisa ocorrer entre marido e mulher. Ambos possuem diferenças que a própria natureza lhes concedeu, não com o objetivo de supremacia a um dos dois. Tais diferenças tendem à complementação, não à separação, não devendogerar barreiras, muralhas, mas laços que fortifiquem a união, a fraternidade e o desejo de construir um verdadeiro lar.
Segundo Rubem Alves afirma que os casamentos podem ser de dois tipos: há os do tipo tênis e os casamentos do tipo frescobol, jogos iguais que usam os mesmos instrumentos para jogar, ou seja, duas raquetes, uma bola e dois jogadores, mas com objetivos e finalidades distintas.
É preciso que no relacionamento conjugal, como em qualquer outro, haja uma cumplicidade que leve a uma integração, uma participação/colaboração, sociedade/parceria/
solidariedade.
Cumplicidade é estar e fazer juntos, é vibrar/sonhar, sentir/participar das alegrias, das tristezas, vitórias ou derrotas um do outro.
O casamento é um processo que supõe a aceitação de limites e diferenças, bem como o aceitar-se provisório, não feito, pois, não existem casamentos perfeitos, existem casamentos funcionais. Só quem consegue observar os próprios limites, consegue propiciar pontos de apoio, proporcionando um certo nível de segurança, ou seja, o casamento é uma experiência de viver com o outro, de partilhar a luta, de caminhar juntos diante das dificuldades e necessidades do cotidiano.
Nenhum dos cônjuges pode pretender possuir todos os meios para construir a família. Deve antes, sentir necessidade dos meios complementares do outro. É uma questão de humildade, ou seja, de visão realista de si mesmo e do outro( a ). (2)
Por este prisma, o casal em nossos dias, parece precisar estar na contra mão da história, do momento social e político. Unido a partir de uma cumplicidade, de uma afetividade, transmitindo alegria, coragem, solidariedade, compreensão e respeito mútuos. Aliás, a afetividade, a cumplicidade e a comunicação, são palavras essenciais para o casamento.
Na vida de um casal, isso é maravilhoso. Os dois podem passar a ter um profundo conhecimento e se compreenderem, entendendo o que o outro está pensando, querendo ou sentindo, propiciando confiança plena entre os parceiros, fazendo prevalecer a fidelidade , o carinho e a arte do ouvir, do dialogar. Isto é amor, parceria e incentivo. É a forma mais eficaz de cumplicidade. Sem a qual, ninguém consegue chegar a nenhum lugar, seja no trabalho, nos estudos, nas amizades e, principalmente, no casamento.
O casamento é um engajamento, uma inserção, um compromisso com a vida do outro. É um engajamento que leva a uma comunhão de vidas. (3)
No entanto, um resultado feliz no casamento não é uma coisa fácil e nem tão pouco conseguida no primeiro dia do casamento ou na lua de mel. É um processo delicado e bastante paciente, que transcorre durante a vida, não excluindo de forma alguma possibilidades reais de tristezas e momentos de crises, provações e incertezas.
Todos que negligenciam tais situações acabam por sucumbir, já que construir uma vida conjugal não se constituí uma coisa automática, é uma tarefa que necessita ser montada com delicadeza, onde a aceitação do outro significa saber que ele é diferente e que existem qualidades que faltam em um, mas que se completam no outro.
Além disso, existem outros fatores que podem complicar um relacionamento conjugal, entre outros, às vezes pode ser a história de vida de cada um, a forma de criação ou a educação que cada um recebeu, o machismo extremado, que aliás, é um problema seríssimo na sociedade, baseando-se na ideologia que o homem é superior à mulher, cabendo a ele a decisão sobre o melhor e o pior.
Por vezes, no seu machismo, fruto de condicionamentos culturais, o marido se opõe a que a mulher se realize através de uma função remunerada, de um curso que aprimore sua cultura. Quando esse anseio existe e é impedido sem mais nem menos, sem uma reflexão ponderada, cria-se uma situação a mais que coopera com o afastamento. (4)
A diferença de instrução pode ocasionar brigas, causando insatisfações, pois, os gostos são diferentes. A diferença social, pobre casando com rico, ou vice - versa, pode ocasionar sérios problemas, já que um pode vir a se tornar muito dependente do outro, ou quem sabe, se sentir inferior, impedindo desta forma, toda liberdade necessária para uma harmonia no casamento.
As diferenças de religião e de idade, podem, não necessariamente, também gerar sérios conflitos. O primeiro, porque quando duas pessoas pensam de maneira diferente em relação à religião, o casamento é visto por ângulos opostos, podendo trazer conflitos na área da educação dos filhos. A diferença de idade pode se tornar um grande risco ( quando a diferença é acentuada ) ao casamento. O risco de querer coisas diferentes, falta de maturidade, dependência.
Entretanto, é bom ter em mente que as diferenças individuais não se constituem impossibilidade para um bom relacionamentos, pois até, se bem administradas, podem enriquecer e proporcionar o amadurecimento do casal.
A síntese das diferenças de relacionamento e de comunicação existentes na vida interior de casais que se compreendem ou casais em dificuldades, pode ser representada na citação abaixo, que apesar de longa, é de grande relevância para esta pesquisa:
- A comunicação favorece o conhecimento dos dois, dos problemas, das expectativas recíprocas.
- Tom, voz, gestos estão em sintonia com o que se diz.
- Os intercâmbios são procurados porque proporcionam satisfação e são eficazes.
- Os problemas do casal são descritos e aprofundados. Não há digressões.
- Os esposos falam um com o outro e são um com o outro.
- Os esposos se aceitam como cônjuges e como companheiros.
- Não se comunicam apenas verbalmente, mas também com carinhos, com sexualidade, com o pensamento, com a lembrança...
A COMUNICAÇÃO ENTRE CASAIS NÃO SINTONIZADOS
- A comunicação é defesa/ofensa e não favorece o entendimento mútuo.
- Coisas banais são ditas com agressividade e coisas agressivas com o sorriso.
- Os intercâmbios são cansativos e inexistentes.
- Todo problema põe outros em discussão e até mesmo a relação conjugal. Disgressões numerosas.
- Cada um procura convencer, ou evitar, ou manipular o outro.
- O outro não é aceito, antes, é considerado como adversário e fonte de frustração.
- A comunicação limita-se a sinais verbais convencionais, ou é substituída pela escrita. (5)
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1 - ALVES, Rubem. O Retorno e Terno. Campinas, Papirus, 1994, pp. 51-53.
2 - MANENTI, Alessandro. O Casal e a Família. São Paulo, Paulinas, 1991, pág. 29.
3 - COSTA, Luíz Gonzaga. Comunidade de Vida e Amor. Petrópolis, Vozes, 1975, pág. 25.
4 - MINERVINO, J. Matrimônio: Casais OK ou Solidão a Dois? São Paulo, Paulinas, 1980, pág. 43.
5 - CARMAGNANI, Rossana. O Casal, amor e planejamento. São Paulo, Paulos, 1995, pág. 53.
fonte: www.clickfamilia.com.br
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